Lisboa, 20 Out (Lusa) - Os jovens à procura do primeiro emprego e os trabalhadores precários ou com baixos salários são encarados pelos portugueses como os novos grupos vulneráveis à pobreza em Portugal, segundo um estudo hoje divulgado.
Estes são os resultados preliminares de um inquérito sobre "Percepções da pobreza em Portugal" realizado pela Amnistia Internacional Portugal em parceria com a Rede Europeia Anti-pobreza e o Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa.
O estudo foi feito a partir de uma amostra representativa de 1350 pessoas com 18 anos ou mais e de 19 freguesias seleccionadas aleatoriamente em cada região de Portugal.
Oitenta e três por cento dos inquiridos para o estudo sustentam que há hoje novos grupos vulneráveis à pobreza, com destaque para os jovens à procura do primeiro emprego.
Hoje há uma percepção generalizada de que a situação laboral torna os indivíduos vulneráveis à pobreza, enquanto há 20 anos essa vulnerabilidade era identificada em grupos minoritários como os deficientes, as minorias étnicas e os doentes crónicos.
O combate à pobreza passa assim, na opinião dos inquiridos, pela criação de emprego assim como por investimentos políticos em áreas como a saúde, educação e formação profissional.
No que respeita aos sinais de pobreza, os inquiridos para este estudo mencionam com maior frequência dados como a inexistência de água, luz eléctrica ou casa de banho.
"Podemos dizer que a inexistência de condições mínimas de salubridade continua a ser o indicador de pobreza mais consensual, não havendo ainda menção alargada a formas de pobreza mais modernas", lê-se no estudo.
Uma das principais questões colocadas no inquérito diz respeito à percepção da existência de pobreza em Portugal e uma grande parte da amostra (40 por cento dos inqueridos) considera que metade da população vive em situação de pobreza.
No entanto, apenas uma pequena parte da amostra (6 por cento) classifica a pobreza existente como miséria.
Para a Amnistia Internacional Portugal e a Rede Europeia Anti-pobreza, este estudo indica claramente que é fundamental intervir no domínio da opinião pública e sobre as suas percepções.
"Não podemos esquecer que os conceitos de pobreza e de exclusão social são construídos e delimitados pelo mundo dos que se julgam incluídos. É aqui que é preciso, prioritariamente, actuar, não esquecendo, os 'velhos pobres'", defendem.
As duas organizações defendem ainda que é necessário criar uma cultura social que assuma a sua co-responsabilidade, que entenda que a exclusão é uma consequência dos modelos e das práticas escolhidas e que não é inevitável.
Por outro lado, defendem uma mobilização e participação de todos os actores, em particular dos que enfrentam a pobreza, um fenómeno que atinge mais de 79 milhões de pessoas na União Europeia, entre as quais cerca de dois milhões de portugueses.
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